terça-feira, 18 de setembro de 2012

The Amazing Spider-man


 
Confesso que não perco um Homem Aranha. Que querem? Cresci com Peter Parker e ele tornou-se de certa forma num alter-ego.    
Surgido em 1962, Spiderman é um dos primeiros super-heróis da Marvel (creio que os primeiros terão sido os Fantastic Four) , e é o grande responsável pelo sucesso da editora. The Amazing Spiderman rompia com os super-heróis invencíveis do estilo Superman, praticamente sem vida pessoal. Peter Parker era um jovem solitário, apaixonado, inteligente, com problemas financeiros; ao contrário do macambúzio e desinteressante Clark Kent. E se Superman tinha sido o super-herói que os americanos precisavam para enfrentar os nazis, os adolescentes dos anos 60 reviam-se agora num herói complexo, que ria e sofria e crescia com eles.
Spiderman inaugurava a era dos anti-super-heróis (os anti-heróis tinham sido «inventados» por Charles Schulz em 1950). O bem e o mal deixavam de ser desenhados a preto e branco e, com frequência, os argumentistas do Homem Aranha procuravam explicações sociológicas ou psicológicas para explicar o mal. Os vilões nem sempre eram maus, ou eram-no pelas circunstâncias, e os bons nem sempre haveriam de ser «cavaleiros andantes». Não ainda assim o Homem Aranha, que pagava os erros bem caro, e para quem as histórias acabavam invariavelmente mal, mesmo quando derrotava os vilões. Mas ele necessitava esconder a sua personalidade super, chegando a sugerir cobardia ou fraqueza, para defender os amigos ou a família. As coisas não lhe corriam bem com as namoradas, a tia, os colegas ou os amigos. De certa forma ele encarnava os anseios dos jovens em formação de personalidade, para quem ninguém era capaz de reconhecer as virtudes da sua alma que o corpo não podia transmitir. Quando em 1973, num comovente episódio, a namorada do jovem Peter Parker, Gwen Stacy, morre às mãos do Duende Verde, alguns jornais americanos noticiaram a sua morte na primeira página! Era simbolicamente o fim da inocência na banda desenhada, onde ninguém morre, mas o episódio em que a vitória contra o inimigo lhe custou a vida da namorada caracteriza bem a figura do super-anti-herói.
Enfim, o enorme sucesso do aranhiço na banda desenhada tem acompanhado também os filmes, que procuram respeitar o espírito da série, mesmo reescrevendo as histórias.
O último episódio regressa atrás na sequência que estava a ser seguida, recuperando um super-vilão, o Lagarto (surgido em 1963), mais uma vez um vilão «acidental».
História agradável, bem contada, efeitos especiais no seu melhor (mesmo se a versão 3D abusa do efeito view master), duas horas de entretenimento assegurado. O realizador procurou sempre insuflar a alma agitada no personagem, mas resiste a um happy end.

Just Kids, Patti Smith



Leitura de férias foi um presente de aniversário, Just Kids de Patti Smith.
Ao longo das 300 páginas de Just Kids passam Allen Ginsberg, Andy Warhol, Bob Dylan, Jimi Hendrix, Janis Joplin, e toda uma infinidade de personagens que foram a imagem da beat generation nos finais dos anos 70, ficando por vezes a sensação de que Patty Smith chegou sempre tarde: ela encontrou toda a gente quando eles já eram famosos e ela ainda não o era. Horses, o primeiro disco Patty Smith, foi editado em 1975, já num período de ascensão do punk, cinco anos depois da morte de Hendrix, Jim Morrison ou Joplin. A Factory tinha fechado em 1968…  
Just Kids tem como argumento as relações da cantora com o amigo de sempre, Robert Mapplethorpe (a quem é dedicado), até à sua morte, percorrendo um período que vai da infância à mudança para New York, até ao sucesso como cantora e artista.Torna-se por vezes um pouco cansativo pela minúcia descritiva, pecando também pela forma simpática como Patty Smith se descreve a si mesma (mas enfim, creio que outra coisa não seria de esperar numa autobiografia).
O livro é curioso, revelando uma artista culta, com uma grande atracção por poetas como Rimbaud e pela cultura europeia e uma enorme convicção no futuro.